segunda-feira, 31 de maio de 2010

Episódio final: Grey's Anatomy

Hoje atendi uma vítima de roubo.
Ela teve dois carros roubados, à mão armada, em pouco mais de um ano.
No último, o filho, de apenas 06 anos, estava no carro.
Ela pediu calma ao assaltante, e tirou o garotinho do carro, lembrando-se ainda de pedir para retirar também um documento, que estava no banco. O ladrão permitiu.
Ela falava comigo que estava considerando a hipótese de comprar uma arma. Tudo legalmente, claro, fazer o curso, pedir o porte, essas coisas.



Eu não concordo. Acho que arma não defende ninguém, a não ser quem é muito muito muito bem treinado, e que na maioria das vezes, a vítima é morta com a própria arma, quando tenta reagir. Não tenho estatísticas, mas tenho a sensação, entende?
Arma é feita para MATAR.
Arma mata.
Aqui, vejo uns sites e blogs ultradireitistas, dizendo que temos o direito natural de portar arma...
Poxa, temos o direito natural de VIVER, e não de matar.




Porque estou falando de porte de arma, venda de arma, essas coisas, em um post com o titulo "Episódio final: Grey's Anatomy"?
Porque no episódio final (quem acompanha e ainda não assistiu, convém parar por aqui...) o senhor Gary Clark, que perdera a esposa alguns episódios antes (ela teve morte cerebral, e o Derek, o Richard e a Lexie desligaram as máquinas) surta e sai atirando em todo mundo (antes ele pergunta para alguns se eles eram cirurgiões, mas não perguntou para todos...)

E eu fiquei com ódio do velho. Poxa, antes eu havia sentido compaixão, havia me sentido solidária com a perda que ele sofreu, coitado, era apaixonado pela esposa, eles não tinham filhos, e ela morre... (tudo bem, é ficção, mas...)
Mas ele saiu, comprou uma arma, um monte de munição, e saiu para matar os três cujos nomes eu citei acima, ou seja, os que "mataram" a esposa dele (grande amor, ficar vendo a mulher em uma cama, entubada, sem interagir, definhando, respirando por aparelhos, cheia de fios e tubos e agulhas).
Mas ele começa a matar porque a Reed (a novinha, do cabelo curtinho) é um pouco ríspida com ele: ele pergunta onde é a sala do Chefe (Derek) e ela fala que está ocupada e não é guia. Bum! Ela dá um tiro na testa dela. Então o Alex chega, e Bum!, tiro no toráx.
E o velho sai andando, na maior tranquilidade, e atirando em quem dá na telha dele atirar!
E no final, depois de matar pelo menos uns cinco, e ferir um monte de gente, ele senta em um quarto, e conversa com o Richard (Former Chief).
E fala sobre o quão fácil foi comprar uma arma.
Como no supermercado, tem o corredor de armas e munições.
E ele comprou um monte de munição, porque estava em promoção!

Deuses, imagine isso aqui no Brasil!
Já enfrentamos uma onda de criminalidade alarmante. Tem se mantido estável, e as vezes até diminuído, mas ainda assim é alarmante, muito alarmante.
São jovens, se matando.
Envolvidos com o tráfico? Sim, grande parte. Mas nem todos.
Muitos só matam porque tem uma arma. Matam por causa de futebol, matam por causa de possessividade, matam por disputas fúteis sobre quem é mais "fodão".
Tem tesão de ver arma, de pensar no poder de uma arma. Não pensam nas consequências.
Um disparo, e é "game over", meu amigo.
E morrem.
Tá, dizem por aí que arma não é difícil de conseguir, que se o cara ficar de bobeira na praça da Rodoviária ou na praça Sete, fatalmente vai aparecer um sujeito oferecendo uma "peça" ou "brinquedo". Sei lá se vai. Tenho até curiosidade de ir, e ficar lá, parada, para ver o que vão me oferecer... deixa prá lá!
Mas se permitíssemos a venda de arma de maneira indiscriminada, como é nos Estados Unidos, não gosto nem de pensar o que teríamos em curso no país.


Então, mais um fundamento para eu ser a favor do desarmamento: Episódios finais de Grey's Anatomy, 6ª temporada: Santuário/A morte e todos seus amigos.
Sem mais comentários.

domingo, 30 de maio de 2010

Abordagem policial em questão

Um colega me falou sobre um programa chamado Cops, transmitido pela Tru TV.

Na madrugada de sábado passado, chegando em casa, liguei a tv, e olhando o guia de programas, vi que estava passando o tal programa no tal canal.

Não tive paciência de assistir, mas vi que em seguida, iria ser transmitido outro, de nome "Inside American Jail" (Centro de Detenção, na programação brasileira) um programa que acompanha o que acontece nas prisões. "Getting busted is just the beginning": ser preso é só o começo...

Gente, é uma das coisas mais ridículas, humilhantes, patéticas, que já vi na vida.

Fiquei pensando: será que os presos se sujeitam a tal exposição voluntariamente, ou seja, será que são consultados e assinam um termo autorizando a exibição das imagens, ou será que, na ótica do "quem é preso não é gente = não tem direitos", não importa se eles concordam ou não com a filmagem e posterior exibição?

Por associação de pensamento....

Lembrei de um vídeo que exibo nas aulas de Direitos Humanos, sobre uma abordagem policial que termina com a condução do "elemento".

O programa é apresentado por um tal de "Bocão", e começa com o sujeito prestando um desserviço à segurança pública, ao validar comportamentos violentos em abordagens policiais.

Poderia fazer diferente?

Sim, poderia ajudar às policias e à população, mas não, tem que dar um tom sensacionalista e populista ao ocorrido, então...

Como ele poderia prestar um serviço?

Bem, primeiro explicando ao telespectador que a Polícia (as polícias) não estão de "perseguição" com ele, e que a abordagem, no caso em tela, não foi aleatória. Ora, se a pessoa desce do ônibus e apressa o passo ao visualizar a presença de policiais, pode muito bem estar tentando evitar a abordagem, por portar algo ilícito, como drogas ou armas, ou ser foragido, por exemplo (claro, pode ser que quem já seja "escolado" no crime as vezes fica tão "relax" que nem é abordado... são coisas da vida, policial não é oráculo de Delfos, para saber o que aconteceu e o que acontecerá só de olhar para a cara da pessoa).

Segundo, explicar, de uma maneira sensata, que não, náo é legal “tomar tapa”, mas sim, é legal e deve ser obedecida a ordem de colocar as mãos na cabeça ou na parede, abrir as pernas em determinado ângulo, ficar imóvel, ser revistado, ter a bolsa revistada (não revirada e jogada no chão...). Inclusive, se houver necessidade, é possível que uma mulher seja revistada por um homem, sim. Não em qualquer caso, mas em determinadas hipóteses, que quem vai determinar é sim o policial!

Explicar que é desconfortável sim, é constrangedor, sim, mas se a gente não estiver portando nada (arma, droga, chave micha, etc.), e aguardarmos, ao final seremos liberados e ouviremos o policial (em geral um militar, praça, claro!) agradecer a colaboração (bem, esse é o procedimento padrão, não posso garantir que na rua funcione assim em todos os momentos, infelizmente!)

Só que não: o Bocão só fica parabenizando os militares, que agiram totalmente errados a partir do momento em que houve a desobediência. Ora, se ele não obedeceu, deveria ser imediatamente imobilizado, revistado, e em seguida, aí sim, conduzido à delegacia (onde vai ser lavrado um TCO, e não concepção popular, “não dá em nada”,mas isso é outro assunto). Da forma como ocorreu, o cidadão (ou, nas palavras da Tenente, "o elemento") teve várias oportunidades de reagir e provocar graves consequências, por exemplo, tomando a arma de um policial, podendo ferir a si, a terceiros e ao próprio policial.

Houve desobediência? Creio que houve, sim. (Desacato? Acredito que não. Resistência? Tampouco.)

Só que culpado por ela não é só o cidadão, mas o policial, a mídia e a sociedade brasileira. Ninguém sabe como agir, ninguém sabe como se comportar em uma situação de abordagem. Ninguém discute o que deve ser falado: quais os limites do mandado policial? Quais os deveres do cidadão?

Polícia é controle. É ruim? Eu acho também, ninguém quer ouvir "não", e controlar é dizer não para os instintos, para alguns desejos, para algumas pulsões. Temos várias ferramentas de controle, internas e externas, e a Polícia, em qualquer lugar do mundo, sendo a força armada interna do Estado ( e sendo o Estado o baluarte da sociedade moderna, "civilizada", ou seja, aquele a quem delegamos as funções de proteção e controle") é, obviamente, CONTROLE.

Polícia pode usar arma, sim. Em qualquer caso? Não, claro que não!

O uso da arma tem o potencial de letalidade, que só é justificável para legítima defesa (própria ou de terceiros).

E, gente, se quando ocorre um desvio de conduta de um policial, em qualquer ligar, seja no Rio, no Pará ou no Paraná, e passa no JN ou outro similar, isso repercute sobre a imagem de TODAS as POLÍCIAS e TODOS os POLICIAIS (sejam Policiais Civis, Policiais Militares, Guardas Municipais ou Agentes Penitenciários), eu passei a entender que quando morre um policial em confronto em qualquer lugar, isso repercute também sobre os policiais, que convivem diariamente com a criminalidade violenta e correm sim, risco de morrer em serviço!

Mas, voltando ao vídeo da abordagem policial, e concluindo, nossa sociedade não sabe como se comportar. O “cidadão de bem” costuma ser o que mais causa os “pequenos transtornos” do cotidiano, porque, na cabeça dele, deveria ser obvio ao policial que ele (o tal cidadão de bem) não é “bandido” e não precisa ser abordado, ainda que tenha ocorrido um roubo minutos antes, naquela região, e a descrição do autor e da roupa seja similar à dele (cidadão de bem).

O policial deveria saber que não precisa abordá-lo em fiscalização blitz, e nem pedir os documentos, porque ele é um cidadão honesto, seus impostos pagam os salários dessa corja de policiais corruptos, e ... opa! Não pagou o licenciamento de 2010. Ahm, seu guarda, sabe o que que é...

A violência policial é legitimada por uma classe, pela classe dominante, uma vez que em geral não a atinge!

A policia no Brasil continua matando ( e morrendo) em níveis alarmantes, mas isso não importa para uma sociedade que quer a todo custo se manter isolada da “marginalidade”.

Transcrevo ao final um trecho da fala inicial do apresentador (sério, assiste o vídeo, ele fala isso mesmo, e gesticulando!)

“Abordagem é normal: mão na cabeça e abre as pernas! Vai sacudir tudo, por baixo e por cima! Não tem conversa! E é com rico, com pobre, com preto, com branco! E olhe, se cair numa blitz irmão meu, primo meu, e falar – Ah, eu sou irmão de Bocão... – bolacha logo: pau! Quem mandou dizer que é irmão de Bocão?”

Então já viram,né?

Nada de ser parado na blitz e dizer que me conhece! hahahaha

Relances de Contagem das Abóboras

Ontem à tarde fui ao Itaupower Shopping com meu irmão e a namorada dele, comprar um presente de aniversário. Enquanto eles foram ao shopping mesmo, eu fui ao Walmart comprar a cerveja para levar para o churrasco...
Incrivelmente, apesar de ser sábado à tarde, e o supermercado estar lotado, consegui resolver rápido, e cheguei no carro primeiro.
Então guardei as coisas, liguei o som, acendi um cigarro, e estava ouvindo Raimundos, quando percebi que estava estacionada em frente às torres das chaminés da antiga fábrica, e o sol se punha atrás delas, um visual muito bacana.
Peguei a câmera na bolsa, e tentei captar o momento:

De repente, eis que vejo o vulto de um grande pássaro, voando em frente às torres.
Deu a volta, e pousou em um dos postes de iluminação do estacionamento, e eu fiquei olhando: "Meu, que urubu bicudo!"
Não era um urubu: era um TUCANO!

Sério, em plena Cidade Industrial, aquela poluição toda, uma zona de carros, não sei onde tem árvore ali perto (creio que perto da Via Expressa, chegando no Camargos, existe ainda alguma área de mata, mas ali nas proximidades do shopping?

E eu lá, com a câmera na mão, tentando tirar uma foto do bicho, e rindo sozinha da viagem... e o povo passava, com os carrinhos de compras, e olhava aquela mulher louca, de bota de cowboy, olhando para cima e rindo sozinha.
Pouca gente olhou para o que eu estava olhando, porque o infeliz do tucano se escondia entre as luminárias, então tinha que ficar olhando, esperando ele dar um vislumbre do bico...

Achei legal, um animal silvestre em plena selva do consumo...

Se bem que se fosse meu ex-chefe lendo isso, ia dizer: tá vendo, essa Contagem é uma roça mesmo...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Ovelha em pele de loba

Tem o ditado que diz do lobo em pele de cordeiro, não tem?

Pois é. Eu me sinto a ovelha, na pele do lobo.

As vezes me sinto a mais hipócrita de todas. A mais conservadora. E faço um monte de coisa, para provar pra todo mundo que não preciso provar nada pra ninguém (opa, alguém já falou isso, antes de mim... FxDxPx do Renato Russo...)

Será que ser adulto é isso?

É reconhecer que nos tornamos nossos pais?

Conservadora? Eu??!!

Elis Regina

Composição: Belchior

Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...

Por isso cuidado meu bem

Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...

Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...

Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...


Quando me pego falando coisas como “esses jovens não tem noção de autoridade!”, “esses meninos não respeitam nada”. “não beba”, “não fume”, etc, eu lembro de uma frase que achei outro dia, na porta do meu guardarroupas, por baixo de um pôster antigo, que rasgou, e tive que tirar:

“os mais velhos nos dão bons conselhos porque já não podem dar maus exemplos”


Graças ao santo Google, descobri que a frase é deFrançois 6º, príncipe de Marcillac e, mais tarde, duque de La Rochefoucauld, que nasceu em Paris a 15 de setembro de 1613 e morreu na mesma cidade na noite de 16 para 17 de março de 1680, e na verdade, seria assim:

Os velhos gostam de dar bons conselhos para se consolarem de já não estarem em estado de dar maus exemplos.”


Mas como eu ainda dou “maus exemplos”...

"Velhice é quando vamos a restaurantes que têm sommeliers, e não aos servido por garçonetes." Marcel Achard.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Santa ira

Saint Anger 'round my neck
Saint Anger 'round my neck
He never gets respect
Saint Anger 'round my neck

(You flush it out, you flush it out)
Saint Anger 'round my neck
(You flush it out, you flush it out)
He never gets respect
(You flush it out, you flush it out)
Saint Anger 'round my neck
(You flush it out, you flush it out)
He never gets respect
Fuck it all and no regrets,
I hit the lights on these dark sets.
I need a voice to let myself
To let myself go free.
Fuck it all and fuckin' no regrets,
I hit the lights on these dark sets.
Medallion noose, I hang myself.
Saint Anger 'round my neck
I feel my world shake
Like an earthquake
Hard to see clear
Is it me? Is it fear?

I'm madly in anger with you (x4)
Saint Anger 'round my neck
Saint Anger 'round my neck
He never gets respect
Saint Anger 'round my neck

(You flush it out, you flush it out)
Saint Anger 'round my neck
(You flush it out, you flush it out)
He never gets respect
(You flush it out, you flush it out)
Saint Anger 'round my neck
(You flush it out, you flush it out)
He never gets respect

Fuck it all and no regrets,
I hit the lights on these dark sets.
I need a voice to let myself
To let myself go free.
Fuck it all and fuckin' no regrets,
I hit the lights on these dark sets.
Medallion noose, I hang myself.
Saint Anger 'round my neck
I feel my world shake
Like an earthquake
Hard to see clear
Is it me? Is it fear?

I'm madly in anger with you (x4)
...and I want my anger to be healthy
...and I want my anger just for me
...and I need my anger not to control
...and I want my anger to be me

...and I need to set my anger free
...and I need to set my anger free
...and I need to set my anger free
...and I need to set my anger free
SET IT FREE
Fuck it all and no regrets,
I hit the lights on these dark sets.
I need a voice to let myself
To let myself go free.
Fuck it all and fuckin' no regrets,
I hit the lights on these dark sets.
Medallion noose, I hang myself.
Saint Anger 'round my neck
I feel my world shake
Like an earthquake
Hard to see clear
Is it me? Is it fear?

I'm madly in anger with you (x4)

Hoje estou irada.

E não consigo extravasar.

E minha ira endurece meus nervos e músculos e minhas costas doem.

E eu não consigo ver claramente as coisas bem diante dos meus olhos, por trás da névoa vermelha da ira, da desesperança, do ódio.


quarta-feira, 26 de maio de 2010

Orgulho e Preconceito

Descobri Jane Austen há cerca de 15 anos, com uma versão adaptada (muito toscamente) de Orgulho e Preconceito.
Durante anos procurei a versão original, mas não encontrava em português, somente importado de Portugal.
Então, já no século XXI... Jane foi redescoberta pela mídia, e, graças às deusas e deuses, republicaram a maioria de suas obras.

Fizeram até um filme, ficcionalizando sua vida, e intensificando seus romances...

Jane é interpretada por Anne Hathaway, e seu amor impossível, por James McAvoy


Tenho uma versão em inglês, com as obras completas, e então li Northanger Abbey e Mansfield Park.
Filmes, são tantos...
Mas o principal, e parece que foi o que reiniciou a febre de Jane Austen foi o lançamento, em 1995, da versão de Orgulho e Preconceito, pela BBC.
A série foi mencionada dentro do livro Bridget Jones, no limite da razão (que é a sequência do primeiro livro, e é muito fraco). A melhor coisa do livro é quando ele fala da mini-série, e entrevista o Colin Firth-Mr. Darcy. É hilário.


Outro filme, do qual gostei muito, é o Clube de Leitura de Jane Austen.
Seis pessoas resolvem formar um clube de leitura, e vão ler as seis obras principais da autora.
Cinco dessas pessoas são mulheres, já amigas há tempos, e a sexta pessoa é um rapaz, que é convidado por uma delas, para ser par romântico de outra, recentemente divorciada. Essa parte já é inspirada em Emma, com sua mania de querer arranjar as vidas amorosas das pessoas ao seu redor...


Porque Jane foi lembrada, quase dois séculos depois de sua morte?

Bem, ela sempre foi muito lida na Inglaterra, pelo que soube.
Inspirou inúmeros livros e filmes, alguns de época, e outros adaptados, como Bridget Jones, que bebe na fonte de Orgulho e Preconceito, e As patricinhas de Beverlly Hills, que é baseado em Emma.

Hoje, posso dizer que já li todos os livros publicados.
Meu primeiro foi Orgulho e Preconceito, depois li Emma, depois Razão e Sensibilidade.
Depois encontrei Persuasão, que se tornou meu segundo favorito (não tem quem possa vencer Lizzy e Mr. Darcy...)

A estrela indiana Aishwarya Rai faz a Lizzy (sua versão indiana, pelo menos),no ótimo Bride and Prejudice (o título em português não tem nada a ver com nada: A noiva indecisa, eca!)
O Naveen Andrews (o Sayd, de Lost), faz o Mr. Bingley, e o ator que faz o Mr. Darcy é fofinho (apesar que eu preferiria o Sayd!)

Em 2006, foi lançado o filme Orgulho e Preconceito, com a então queridinha da Inglaterra, Kiera Knightley. Assisti no cinema, com a Mônica e a Deise. A gente estava cursando a Acadepol, fomos no pátio Savassi, com o uniforme de golinha vermelha, de caixa do Epa...
E o filme é bonito, imagens lindas, e tal, mas é muito gótico, muito tenso. O livro é mais leve, a Lizzy é mais atrevida, sem ser petulante, eu acho.


Agora, encontrei a série da BBC à venda, na Livraria Cultura. Ela foi transmitida no Brasil pelo canal à cabo AeE, mas eu não vi.

Estou adorando. A Lizzy está perfeita.


Nos livros da Jane Austen ninguém se beija.
Mas se olha. Muito.

E a ironia que há em frases como a que abre Orgulho e Preconceito, gente...
E pensar que foi uma mulher, em pleno século XIX, na Inglaterra rural!
Jane manda, cara!!!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Metralhadoras, fuzis e furadeiras

No dia 19 de maio, quarta-feira da semana passada, o brasileiro Helio Barreira Ribeiro, de 47 anos, morador do Andaraí, no Rio de Janeiro, foi morto por um disparo de fuzil, efetuado por um policial militar do BOPÉ. Helio estaria na laje de sua casa, e portava uma furadeira. O policial teria confundido a ferramenta com uma submetralhadora israelense, infelizmente comum entre os envolvidos com a criminalidade violenta no Rio (segundo consta, não posso atestar se é comum ou não, porque aqui em Minas ainda não é comum não, quando são apreendidas armas mais pesadas, é um fato de destaque, o que não significa que elas não possam estar por aí, nas nossas vizinhanças...)

Li o primeiro post sobre o tema no blog do Thiago, o Memória Individual, que já recomendei aqui.

Deixei lá um comentário, e acabei resolvendo falar também sobre o tema aqui, já que é um assunto do qual sempre trato nas aulas de Direitos Humanos, dos cursos de formação dos Agentes de Polícia Civil, qual seja: o uso da força letal.

Todo policial brasileiro, seja ele estadual (policial civil ou militar) ou federal (policial federal ou rodoviário federal) tem o porte de arma de fogo, e na maioria das vezes, uma arma do patrimônio do Estado, que lhe é depositada para a prestação do serviço. Junto com o porte, vem a autorização estatal para a sua utilização. E a primeira coisa que aprendemos nas aulas de manejo de arma de fogo é que arma de fogo é para matar (pode só ferir, sim, mas o objetivo é matar, foi para isso que elas foram inventadas. Não foi para ferir à distância, nem para intimidar, nem para ameaçar. A utilização de uma arma tem sempre o potencial de letalidade que lhe é inerente!)

Muitos aspirantes (alunos do curso de formação, que é etapa do concurso, aqui em MG, logo, na ACADEPOL não somos ainda policiais, mas aspirantes a policiais, das diversas carreiras - Delegado, Perito, Legista, Agente e Escrivão) tem a visão de que podemos usar a força (mesmo que não letal) com base na excludente de ilicitude do "estrito cumprimento do dever legal".

E sempre dou a mesma resposta: nós não somos CARRASCOS!

O Brasil não está em GUERRA EXTERNA DECLARADA!

E mesmo que estivesse, não seríamos nós os investigadores-acusadores-julgadores-executores da pena.

Então, ressaltamos que A ÚNICA HIPÓTESE PARA A UTILIZAÇÃO DA FORÇA LETAL É A LEGÍTIMA DEFESA, PRÓPRIA OU DE TERCEIROS.

O que vem a ser a legítima defesa? Mesmo quem não tem formação em Direito tem conhecimento do que é a legitima defesa, pelo menos através de um senso comum. A legítima defesa é prevista no Código Penal, no artigo 25: entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Traduzindo e esclarecendo, por partes:

Moderadamente – significa que assim que cessada a agressão, o uso da força (dos meios de repelir a agressão) deve cessar, sob pena de se transformar em excesso, o que é punível.

“Empregar moderadamente os meios necessários significa usar os meios disponíveis, na medida em que são necessários para repelir a agressão. Deverão aqui considerar-se as circunstâncias em que a agressão se fez, tendo-se em vista a sua gravidade e os meios de que o agente podia dispor. Sempre convém salientar, que a possibilidade de fuga não exclui a legítima defesa, obviamente sendo recomendada quando possível, como no caso de agressão praticada por portadores de necessidades especiais.”

Meios necessários:

“Meios necessários são todos aqueles suficientes à repulsa da agressão injusta que está ocorrendo ou prestes a ocorrer. Ensina a doutrina majoritária, que os meios necessários além de suficientes, devem estar disponibilizados no momento da agressão, existindo em todo caso, a observância da proporcionalidade entre o bem jurídico que se visa resguardar e a repulsa contra o agressor.

Injusta agressão, atual ou eminente:

É na verdade o primeiro requisito: “a existência de agressão injusta, atual ou iminente. Agressão é o comportamento humano capaz de gerar lesão ou provocar um perigo concreto de lesão.

Além da agressão humana (ação ou omissão) é imprescindível que a mesma seja contrária ao direito, ou seja, proibida pela lei e real, ou seja, não suposta.

A agressão humana injusta e real deve ser marcada pela atualidade ou pela iminência. Significa que a mesma deverá estar ocorrendo ou prestes a acontecer e nunca quando já terminada.

A ação de defesa promovida em face da agressão, deve ser praticada com vontade de defesa. Isto indica a intenção do agredido de se defender ou de defender um bem jurídico de terceiro.

O que pode acontecer, além da legítima defesa real, própria ou de terceiros, é a legitima defesa putativa, pelas circunstâncias fáticas.

A lei brasileira assim dispõe:

Descriminantes putativas

§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo

Assim, temos um monte de possibilidades jurídicas, a depender de variáveis tão díspares quanto a repercussão midiática e as implicações ideológicas dos responsáveis pela apuração e processo do fato.

O que levou o soldado a se imaginar em situação de legitima defesa?

Quais as circunstâncias? O fato de estar a vítima em uma área em fase de ocupação? (acho o nome irônico, diante das denúncias que vem ocorrendo... Unidade de Polícia Pacificadora... mas a maioria das teses de segurança pública e mesmo de prevenção atuais preconiza que antes de o Estado voltar a se instalar - voltar? É de duvidar, já que na maior parte dos locais, acredito que ele nunca esteve, não é? - é preciso a repressão qualificada, e a ocupação policial pelas forças policiais é parte desta estratégia)

O Thiago coloca que se fosse em outro local – condomínio de luxo - o policial não teria atirado. Digo mais – se fosse em condomínio de luxo, a polícia nem entraria, porque a classe alta não gosta de polícia nem um pouco mais do que gostam (ou desgostam) os moradores de favelas ou bairros pobres.

Os estigmas de corrupção e arbitrariedade associados às policias não agradam a classe média, em geral. Só quando é a vez dela molhar a mão do agente para conseguir algo de seu interesse. Nesse caso, se o policial é incorruptível, é visto como “ruim de jogo”. E quando o carro é roubado, e o ladrão preso, sem o carro, então a violência se “justifica”, e ruim é o tal “dos direitos humanos, que só protege bandido, né doutora?”

Estou me desviando do foco.

O foco aqui é a responsabilização policial.

Jaqueline Muniz escreve muito bem sobre isso, então, remeto ao texto dela.

Só faço aqui, para encerrar, mais um comentário:

Em geral, o policial não é responsabilizado, é culpado.

Culpado porque não há uma discussão séria e pública sobre os limites do mandato policial, sobre o que pode e o que não pode, sobre os direitos e deveres do cidadão em uma abordagem, sobre os deveres e poderes de um policial.

E se o morto é uma pessoa com “passagens” ( que p... é essa?! – “Tenho passagem não, tenho passe único!”), então a atuação foi legítima.

Se é um trabalhador, não foi.

E não é assim que tem que ser: se houve excesso na legítima defesa ou se houve culpa na descriminante putativa, independente de se tratar de “trabalhador” ou de “bandido”, o tratamento deveria ser o mesmo, para absolver ou condenar quem fez o uso da força.

Existem vários textos, não só o da Jaqueline Muniz, mas também um ótimo, do Roberto Kant de Lima, sobre um fato ocorrido no centro do Rio, há mais de dez anos, quando um cabo executou dois assaltantes. Deu no JN e o cabo foi elogiado. O texto é intitulado: "Direitos civis, Estado de Direito e 'Cultura Policial': A formação policial em questão"

O pior de tudo é a formação policial brasileira (não sei se é só a brasileira, não conheço as polícias do mundo afora, nem seus treinamentos... então desculpem os colegas brasileiros) que é focada só na repressão, na defesa do Estado e não da sociedade, e quando protege a sociedade, não protege a todos da mesma forma, se é que me faço entender.

Criminalizar os pobres é uma tendência mundial, desde a vitória (mais ou menos, não muito bem explicada só por ela) do tal “tolerância zero” na Nova Iorque do Giuliani. E isso não deu muito certo nos EUA e na Europa, onde as desigualdades são muito menores. Imaginemos isso aqui, no nosso cenário familiar brasileiro, muito bem explicado pelas letras que seguem abaixo...

"tudo começou quando a gente conversava naquela esquina alí de frente àquela praça

veio os homens e nos pararam
documento por favor
então a gente apresentou
mas eles não paravam
qual é negão? Qual é negão? o que que tá pegando?
qual é negão? Qual é negão?

é mole de ver que em qualquer dura
o tempo passa mais lento pro negão
quem segurava com força a chibata
agora usa farda engatilha a macaca
escolhe sempre o primeiro negro pra passar na revista
pra passar na revista
todo camburão tem um pouco de navio negreiro
todo camburão tem um pouco de navio negreiro"

(O Rappa – Todo camburão tem um pouco de navio negreiro)

"A favela é a nova senzala, correntes da velha tribo

E a sala é a nova cela, prisioneiros nas grades do vídeo
E se o sol ainda nasce quadrado, e a gente ainda paga por isso
E a gente ainda paga por isso, e a gente ainda paga por isso
E a gente ainda paga por isso

Eu não quero mais nenhuma chance, eu não quero mais... revanche"

(Lobão – Revanche)


Acabei me extendendo muito, e não sei se ficou compreensível tanto o texto quanto meu posicionamento. Mas isso a gente resolve. A morte do seu Helio é que não tem remédio.

sábado, 22 de maio de 2010

Como trabalhar a prevenção da violência em projetos com jovens...

Esta semana estive em São Paulo, em um encontro, com participantes de 6 estados (RJ, SP, MG, ES, PR e RS), promovido pelo Ministério da Justiça (via PRONASCI) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e realizado pelo Instituto Sou da Paz.

Ano passado participei do Seminário, realizado na PUC, e os encontros regionais (serão dois) encerram esta etapa do projeto, que inclui ainda a elaboração de pesquisas sobre as iniciativas existentes, e de cartilhas sobre o tema.

Recebi as cartilhas, ficaram muito boas.

Creio que fui selecionada porque, apesar de não ser gestora de nenhum programa, e atualmente estar sem disponibilidade para participar ativamente dos projetos, tento me manter atualizada, conhecendo a rede de atendimento e prevenção, e quando possível, acionando esta rede para os casos concretos que chegam ao meu conhecimento. E também porque sou delegada de polícia, claro, o que representa um avanço no processo de diálogo entre os inúmeros atores da segurança pública e da prevenção à violência.

No primeiro dia, estavam presentes no evento cerca de 20 jovens.

Jovens. Jovens? Jovens!

Interessante os conceitos que temos sobre jovens. Muitas vezes se confundem com adolescentes, mas não são só os adolescentes que são jovens.
O conceito de juventude é recente, remonta ao início do século XX.

Segundo Dayrrel,

“(...) a juventude é uma categoria socialmente construída. Ganha contornos próprios em contexto históricos, sociais distintos, e é marcada pela diversidade nas condições sociais (...), culturais (...), de gênero e até mesmo geográficas, dentre outros aspectos. Além de ser marcada pela diversidade a juventude é uma categoria dinâmica, transformando-se de acordo com as mutações sociais que vem ocorrendo ao longo da história. Na realidade, não há tanto uma juventude e sim jovens, enquanto sujeito que a experimentam e sentem segundo determinado contexto sociocultural onde se insere”. (DAYRELL 2007 p 4).

Foi importante a presença de vinte lideranças jovens - de 16 a 25 anos - participando deste evento, e rompendo os estereótipos que involuntariamente criamos para categorizar os jovens que participam de projetos de prevenção de violência.

Uma fala que ouvi pela primeira vez na voz do Luis Eduardo Soares foi repetida pelo Denis Mizne, e é muito importante que a tenhamos em mente ao pensar em políticas públicas para a juventude: uma quadra de esportes, em uma área qualquer de classe média, é incentivo ao esporte. A mesma quadra, em uma área com características de vulnerabilidade, risco, urbanização desordenada, ou, falando claro, favela, é prevenção da criminalidade.

Estereótipos existem, e em todos os grupos - já ia falar "lados", mas não há nenhum "lado" nessa história.

Exitem atores: jovens, militantes de ONG's, atores do poder público, polícia.

E todos estes atores, que só há pouco tempo de colocam em condições de dialogar, tem conceitos preconcebidos sobre os demais, fruto de experiência, sim, mas também do desconhecimento.

Foi muito bom o encontro.
Volto com mais folego para tentar implantar um programa em Contagem, pela PCMG, com participação de outros atores e segmentos.



Nos eventos também conhecemos pessoas incríveis, como a Aline, do Paraná.


No último dia, no grupo de trabalho, estivemos debatendo, bem como o Rodrigo, guarda municipal, do ES, o Juliano, professor, do RS, e a outra Aline, de Campinas.

Nas adjacências do evento, encontramos o Delegado Protógenes Queiroz, que estava participando de outro evento, do PC do B. E lógico, tive que tietá-lo. Não é qualquer um, nesse nosso país, que consegue chegar nos grandes criminosos...

Encerrando, a cada vez que vou a São Paulo fico mais impressionada com as dimensões da cidade.

Conversando com o Alexsandro, que mora na Zona Sul, e estava no seminário, falávamos sobre a necessidade de que as iniciativas existentes, fossem elas geridas por ong's, por particulares, pelo poder público, etc, se conhecessem. E eu falei sobre uma espécie de fórum permanente de articulação destas ações, por exemplo, nas sub-prefeituras de São Paulo (fiquei sabendo lá que em São Paulo existem sub-prefeituras). E eles olharam assim, meio... e eu perguntei: pq, sub-prefeitura é mto pequeno?
Não. Subprefeitura é muuuiiiito grande... é enorme a área de cada uma delas.
Existem distritos (que estão abaixo das sub-prefeituras) que tem mais de 300.000 habitantes...
E eu que fico assustada pq Contagem já está com mais de 625.000....