segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sobre Glee, BBB e Machuca...

Neste domingo eu resolvi assistir a primeira temporada de Glee, completa. 
Já havia visto alguns episódios, e tal, mas não acompahnava.
Estou gostando, se bem que as vezes a Rachel me dá vergonha alheia, o prof. Shue seja um panaca completo (vá ser lerdo assim lá... longe de mim!) e a Sue Sylvester seja insuportável.
Tá bom, sei que é bem caricato, é tudo exagerado, ironia mode on quase o tempo todo.
Mas o que me chateia é que as pessoas entendem as coisas como querem (eu também, claro).
Passamos tudo que lemos, ouvimos ou assistimos por um filtro formado por nossas percepções, e essas percepções, apesar de serem compostas por esses elementos externos, podem ser refratárias a esses mesmos elementos se eles vem em uma embalagem diferente. Se o conteúdo for diferente então, acho que fica pior.


Não sei se vou conseguir colocar o que estou pensando de forma inteligível, mas vou tentar.





Assistir Glee, ver os jovens do grupo sofrerem humilhações diárias, só por serem diferentes, por estarem em uma "camada mais baixa da cadeia alimentar estudantil", para mim, soa como um alerta de quanto podemos ser patéticos. A série deixa claro isso para mim, mas me preocupa, porque acho que muito do seu sucesso não vem do conteúdo irônico e iconoclásta, e sim, de gente que se diverte vendo as humilhações dos diferentes.
É a história de se sentir "menos mal" por saber que existe gente em situação pior.


Posso estar enganada, quero estar. Afinal, das pessoas com quem converso, na net ou fora dela, que assistem Glee, a maioria comemora o fato de haver um elenco diversificado, com representações de diversos, hum... segmentos? (detesto essa palavra, mas creio que cabe aqui). 


Então, pode ser só paranóia minha.


É que me lembro de uma cena de "Machuca". 


 Na reunião de pais, para discutir a inclusão dos jovens pobres na escola (religiosa) frequentada pelos filhos dos mais ricos, como Gonzalo, a mãe de Pedro (o Machuca, do título) profere o seguinte discurso: 


– Quando eu era criança, vivia numa fazenda perto de San Nicolas. Meu pai tomava conta do gado, se alguma coisa acontecesse para algum animal era retirado da nossa comida no final do mês. Não importava o motivo, meu pai era sempre o culpado. Eu vim aqui para Santiago quando tinha quinze anos porque não queria que as minhas crianças fossem sempre culpadas por tudo. Mas parece que aqui as coisas são iguais, os culpados sempre somos nós. E, é assim que as coisas devem ser. Ninguém irá nos culpar por não mudar a história. As vezes eu me pergunto, quando irá fazer as coisas de outra maneira? Quando iremos nos atrever a fazer as coisas diferentes? Esta é minha opinião.


Dentro do contexto do filme, eu achei, sinceramente, que nenhum daqueles pais ricos que estavam ali teriam coragem de continuar exigindo a saída dos alunos pobres.

Mas uma mãe se levanta, e parece que ela nem ouviu o que a mãe de Pedro Machuca disse, e continua, insensivelmente, a exigir a expulsão dos bolsistas.


Li também um guest post, entitulado "Como fazer com que eles escutem?", publicado no blog da @LolaEscreva.


E é assim que me sinto. Estou a chata, a irritante, a politicamente correta, a estraga prazeres.
E se eu me seguro e não aponto porque eu acho que o vídeo que você recebeu e está achando o máximo (com cara está imitando ex-presidente Lula, usamdp cliches do gênero analfabeto e não fala inglês) é idiota, e que só aponta preconceito de classe, de origem, entre outros, eu me sinto mal, sabe? Engasgada, com todas as dores do mundo.


Mas se eu falo, não consigo me manter à parte. Todo preconceito me dói. Eu fico pessoalmente ofendida ao ler os comentários anônimos na internet, sobre qualquer assunto que seja relacionado a algum tema mais ou menos polêmico, como aborto, sexualidade (seja estudo sobre, seja notícia sobre estupro, é nojento o que algumas pessas escrevem!)

Tenho tido dificuldades em lidar com as pessoas, especialmente as mais próximas, com quem eu convivo, quando emitem opiniões preconceituosas. Só que não consigo ser didática e me manter à parte, acabo me empolgando, me envolvendo e me enfurecendo.

Como outro dia, no almoço de família, conversando sobre o BBB. O pessoal chamando a Paula de "baleia", a Ariadna de "ele" e quando eu tentei argumentar que aquilo era preconceito, disfarçado de "piadas inocentes", minha irmã disse que eu me identifiquei com a Paulinha (porque também sou gorda, claro,né?) e por isso estava "tomando as dores".Pronto. Desisti de conversar. E são meus parentes, pessoas da minha família, todo mundo com curso superior, pós, etc. (Falo isso porque no meu imaginário ainda existe o conceito de universidade enquanto academia, que forma e amplia horizontes, mas sei que estou errada, pois já estive na faculdade e na pós-graduação, e sei que os velhos "ismos" não acabam com a aprovação no vestibular, e muito menos com a colação de grau)

A minha percepção de Glee é uma, a de outras pessoas pode ser totalmente oposta. 

Claro, é só uma série de tv, não vai mudar nada, só repete os clichês alterando a forma, incluindo alguns dos tradicionalmente excluídos, etc, etc.

Mas veja, eu procurava notícias sobre a série, e vi que o Slash negou que os produtores da série usassem músicas dele (da época do Guns, óbvio, né...) para fazer versões em um episódio, tipo fizeram com a Madonna.


 E nos comentários (anônimos, claro, como sempre...) vem os idiotas e falam coisas como Slash ser o maior artista de todos os tempos (oi?! Nem entre os dez maiores guitarristas ele está, né, gente. Menos, please! Já tive minha fase Gn'R, tudo bem, mas calma lá!), e o pior, dizendo que ele está certo, porque rock é musica de "macho" e Glee é seriado de "baitola".

Cada dia me dá menos vontade de sair de casa, conhecer gente nova, conversar até com os velhos amigos. 
No twitter a gente tem opção de dar unfollow e block, aqui eu posso moderar se aparecer um imbecil nos comentários, mas na vida real, a gente tem que lidar.
E o mundo está cheio de Sues, de jogadores de hoquey, de chearleaders, de repórteres de escola, cada um destilando seu veneno e seu preconceito.

Cena do filme American History X - fala bem do ódio e do preconceito

Vou continuar a assistir, para ver como se desenrola, mas sério, se alguém não der um jeito na Sue e naqueles brutamontes do hoquei e do futebol americando, vai ser difícil. Estou começando a achar até compreensível quando alguma das vítimas de agressões constantes resolve revidar e comete um massacre.
E não é para ser assim!


Aqui, alguém me fala, melhora??

Um comentário:

  1. Pois é, eu me sinto na mesma, sabe? Com relação às amizades e parentes próximos, acaba que não tem jeito, então eu dou uma de caladona mesmo, pra não entrar muito em atrito. Mas tem hora que não tem jeito. Tenho um primo que se casou lá na europa e foi para o Brasil passar lua-de-mel e apresentar o marido à família. Daí que tiveram a idéia de celebrar um casamento no Brasil também. Eu tive que ouvir cada BARBARIDADE de parentes que não teve jeito, parti pra briga mesmo.

    Quanto ao Glee, eu adoro. Mas também me preocupo. Eu me divirto horrores vendo as merdas que a Sue fala, não acredito que alguém possa ser tão rasa, mas olha, já andei dando umas voltas no youtube procurando vídeos dela e já vi cada comentário odioso de deixar qualquer um de cabelo em pé. Porque ironia não são todos que pegam. Mas também não sei como isso poderia ser resolvido de forma a fornecer tanto informação como entretenimento. É duro.

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