segunda-feira, 7 de junho de 2010

A democracia, essa visão fugidia


Este poema do Edgar Allan Poe retrata um pouco do que seria a democracia, nos meus pensamentos hoje diante de várias situações que vivenciei:

Um sonho num sonho

"Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte,
francamente aqui vir confessar-te
que bastante razão tinhas, quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
que me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho.

Fico em meio ao clamor, que se alteia
de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura
com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas, fogem-me, pelos
dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho
será apenas um sonho num sonho?"

A democracia a que me refiro aqui não é o conceito político, ele mesmo tão controverso, mas um de seus postulados, qual seja, a liberdade.

Acho que na verdade o sonho mais fugidio é a liberdade. Nunca estamos livres, não em sociedade. Estamos sempre sujeitos ao controle, à responsabilização...
No entanto, o que estava eu "matutando" hoje, o dia todo, foi sobre como hoje é quase unânime a defesa da democracia (o Bush filho não entrou em guerra para defender a democracia no Iraque, "libertando" a nação (??) da tirania de Saddan - não que eu esteja a favor de Saddan, não me entendam mal) mas é tão difícil viver sob os preceitos democráticos.
Explico: é muito simples eu defender que todos somos iguais, e temos direito à liberdade de expressão. Mas isso só vale se concordam comigo!! Caso contrário, o outro não tem direito de se manifestar!
Eu, além de escrever essas audaciosas linhas (hahaha), costumo acompanhar vários blogs, e ler os comentários de leitores, especialmente quanto a temas mais controversos.
E na verdade, o tema nem precisa ser controverso (na minhã opinião) para gerar controvérsia.
E aí, é um deus-nos-acuda, tem gente que vira o bicho (o bicho-humano, né?) e solta as feras sobre o incauto que ousou discordar do óbvio...
E o óbvio vai depender de quem está falando, de onde você está, de qual a sua "linha".
Se eu estou em um blog da Veja, já sei mais ou menos que não vou concordar com o pensamento expresso (mas posso concordar, já aconteceu).
Se é no blog da Lola, em geral eu concordo (sou do time dos "bravos defensores" da Lolinha!), mas nem sempre.
A internet gera um tipo de "ausência do controle social", digamos assim, derivado da possibilidade do anonimato, que encoraja os mais "básicos instintos" a se libertarem (please, sem trocadilho com o Instinto Selvagem - Basic Instinct, no original em inglês...).
E eu fico indignada, como pode ainda existir gente com o pensamento de que mulher é inferior, de que uma menina de 13 anos pediu para ser estuprada, de que homossexualismo é coisa do "capeta", que a pena de morte é a solução para a criminalidade, que a religião X e o deus Y são os únicos e quem não andar em tal caminho não tem "salvação", independente de seus atos... coisas desse naipe.
Mas essa sou eu.
E o outro, aquele que pensa diferente, que age diferente, que escreve diferente, também é ser humano pensante ( ou não, né, vai saber... ops, não resisti!) e tem o mesmo direito que eu de manifestar sua opinião.
O que acredito que deve ser observado é que a liberdade de opinião é garantida, sendo todavia vedado o anonimato. Sim, porque se eu ofendo alguém (especificamente) ou violo alguma norma, devo assumir a responsabilidade, civil, administrativa e criminal.
Mas confesso: zelar pelo direito dos "outros" de pensar diferente de "nós" é muito difícil, muito muito muito.
Creio que Jesus Cristo falou tudo quando nos pediu para que amassemos ao próximo como a nós mesmos. Porque isso vai muito além de simplesmente não fazer com o outro o que não desejamos para nós, essa máxima do retorno universal que a maioria das religiões prevê.
Zelar pelo direito do outro de, sei lá, seguir piamente os ensinamentos do Antigo Testamento, defender o porte irrestrito de arma de fogo, redução de menoridade penal, entre outras coisas (as quais eu não defendo) é uma das tarefas mais difíceis da vida.

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