As vezes, quando aponto para algum amigo ou parente um aspecto de alguma coisa que achei machista, homofóbico ou racista, me dizem:
"Credo, mas também, você encontra pelo em ovo. Fica procurando chifre em cabeça de cavalo, nossa. Não tem nada disso, você está viajando."
E outro dia, andando pela cidade, estava reparando em quantos cães abandonados estão por aí, em todas as esquinas. Alguns mais gordinhos, outros esquálidos e assustados.
Eu sempre gostei de bichos. Sempre.
Mas depois que passei a tentar realmente ajudar, parece que eles pulam diante dos meus olhos, em todos os lugares.
Eu escolhi abrir os olhos, e o coração.
Então, quando eu assisto "Enrolados", e vejo a princesa boazinha Rapunzel e seus longos cabelos loiros e lisos, e vejo a vilã, com cabelos negros e crespos, bem...
Eu escolhi ver, poxa, que ali, sim, se reproduz um estereótipo do que é bom, belo, digno de ser amado, e do que é ruim, feio, indigno de amor e respeito.
Quando eu vejo a publicidade ridícula de uns tais "panos umedecidos" para limpar o iogurte derramado, e depois, pela rua, toda a mulherada (branca, claro) gritando e levando cartazes de U-HU! eeu fico sim, indignada.
Porque eu escolhi ver, sim, o que há por trás dessa aparentemente inofensiva e "engraçada" peça publicitária.
Eu escolhi ver.
Escolhi ver porque eu gosto de pensar que posso tentar ao menos fazer alguma coisa, nem que seja escrevendo umas poucas linhas, nem que seja falando para uma pequena platéia, sempre que posso, nem que seja para refletir sobre isso a cada instante no meu trabalho e tentar fazer diferente.
E aí, como eu escolhi ver, tudo isso pula, sim, na minha cara.
Todos os dias.
Como os pobres cães abandonados, que estão sempre no meu mural das redes sociais.
Talvez eu fosse outra pessoa, se tivesse escolhido fechar os olhos e o coração.
Talvez sofresse menos.
Talvez não.
Isso sempre esteve em mim, questionar o que está posto, querer saber o porque, sofrer quando não posso mudar nada.
Boa sorte para quem escolhe fechar os olhos, e achar que é piada, que é pelo em ovo, que é chifre em cabeça de cavalo.
Espero que um dia, não terminem chifrados pelo unicórnio que escolheram NÃO ver.
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Pela liberdade dos unicórnios, sua linda <3
ResponderExcluirÉ inevitável que no momento em que nos abrimos a opressão se mostre tão escancarada, também inevitável é sentir-se parte dela e se movimentar para que o quadro mude.
Beijos,
Depois que decidimos ver a opressão nunca mais conseguimos voltar a cegueira de antes. Confesso que tem horas que dá vontade de "desligar"...
ResponderExcluirBeijo!