terça-feira, 24 de maio de 2011

Musica ao longe

Clarissa, de Érico Veríssimo, é uma personagem simples, mas interessante.
Não gostei do livro que leva seu nome, muito bobinho até para a adolescente que eu era.
Mas em Música ao longe, o segundo romance em que ela aparece,  eu me apaixonei por ela.
Se no primeiro romance ela era uma tímida normalista, que vivia longe dos pais, com devaneios tolinhos (não, tolinhos não, nenhum devaneio é tolo), em Música ao longe ela é uma jovem que voltou à cidade natal e caiu na realidade.

Entre as decepções com a família, com as amizades, com aquele mundo que ela guardava com tanto zelo enquanto estava longe, ela conhece o amor.
E o amor é como música ao longe...

O amor vem para Clarissa na figura de Vasco, o primo mais velho.
Filho de um pintor andarilho, que apaixonara, casara mas não conseguira suportar as amarras da tradicional e hipócrita família Albuquerque, Vasco é como o tigre: saiu pintado, puxou ao pai.

É um inconformado, um rebelde, um revolucionário.
É o único que não vive das longíquas glórias de tempos passados, não vive de história, tradição e hipocrisia.

Ele e Clarissa se estranham, ele a isola, acreditando que a "Princesa do Figo Bichado" cresceu para se tornar mais uma insuportável solteirona preconceituosa.

Mas ele se surpreende, ao ler o diário de Clarissa.
Essa invasão de privacidade faz com que ela também tenha a curiosidade despertada sobre o primo, e ela invade o quarto de Vasco, se sentindo culpada por entrar no quarto de um homem, e ao mesmo tempo, excitada com as descobertas. Pinturas, do pai de Vasco e do próprio Vasco. Livros. Livros sérios, de gente grande, livros de Marx, livros sobre países distantes, em outras línguas.

Aquela sensação que ela não conseguia explicar, de que havia algo errado com o mundo, mas não podia compartilhar com ninguém... Ela descobre que não está sozinha nas suas sensações.

Acho que o amor deve ser isso.

Mas o que sei eu do amor?


E Vasco, o aventureiro, se sente dividido entre o desejo de sair pelo mundo, e o desejo de ficar.

Não sei como termina a história, comecei a ler Um lugar ao sol e Saga, onde os personagens ressurgem, mas preferi mantê-los na lembrança como quando os conheci.
Dois jovens, descobrindo o mundo e o amor.
Antes que um final feliz antecipado e impossível poluísse a história, ou antes de descobrir que na verdade, eles não ficam juntos.

Assim como Vasco, eu me divido entre o desejo de partir e o desejo de criar raízes.
Será possível ser uma árvore errante? Quem sabe um bonsai, que possa ser levado.
Mas não, não quero ser levada, conduzida. Quero ir com meus próprios pés, para onde a vida me levar.

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