As vezes, me sinto a única humana em uma imensidão de zumbis. Sem alma, sem coração, sem espírito, sem remorso ou outra emoção. Nada além da fome de devorar as emoções alheias.
Dementadores.
E sinto que fico à deriva.
Buscando compulsivamente encontrar outros errantes, outros que sintam que algo estranho acontece no mundo.
Fico, nau à deriva, navegando solitária em um mar de indiferença, ódio, intolerância, impaciência.
Translúcida como um fantasma, lúcida como uma louca.
Arrasto velas devastadas pelo oceano as vezes agitado, outras plácido, mas nunca seguro, da existência.
Hoje é o dia mundial do Orgulho LGBT.
E, diante de tantas coisas horríveis que vem sendo ditas e feitas por pessoas que agem como verdadeiros zumbis, sem cérebro, sem alma, sem coração, me sinto ainda mais desolada.Eles sim, os verdadeiros fantasmas de um passado que ainda não passou, que ainda traz para o presente, quiça para o futuro próximo, os vestígios de uma era que ainda não passou, e será que passará?
Hoje me lembrei de uma ocorrência, de abril, que ainda não foi encerrada, porque, com as ferramentas de que disponho, ainda não localizei os agressores.
Em plena estação do metrô, em um local onde param os "perueiros", com suas vans do transporte clandestino, dois rapazes passavam, de mãos dadas. Foram agredidos verbalmente, e quando questionaram, ousaram questionar, o motivo das frases grosseiras, foram agredidos fisicamente.
E pessoas passavam, e pessoas viam, e nada faziam.
E eu, hoje, me sinto como se nada pudesse fazer.
Os agressores fugiram. Não foram identificados.
Não houve solidariedade, ou fraternidade, ou qualquer sentimento do que eu costumo associar a... humanidade.
Houve só a indiferença, a desculpa de não querer se envolver, a desculpa de que eu não tenho nada com isso...
Até quando?
Até quando os templos reverberarão palavras vazias, rebuscadas ou toscas, de fé, amor, fraternidade, amor ao próximo?
Desde que o próximo não seja diferente de mim, pense diferente, se vista diferente, aja diferente?
Descobro, a cada dia, que meus privilégios não me são devidos, enquanto houver pessoas que não só tem fome de alimento, mas tem fome de alento. Fome de afeto, anseiam por poder expressar sem medo seu afeto, seu carinho, seu amor.
Ah,mas tem tantas causas no mundo, as criancinhas estão morrendo de fome... Sim, estão. E você, que me diz que eu não devo andar com gays e lésbicas, porque, ah, vai que todo mundo vai pensar que você também é... aposto que não ajuda nem as criancinhas nem os velhinhos.
Posso quase apostar, que de dentro do seu carro, você buzina impaciente, quando vê manifestações, essa perda de tempo, esse povo vadio, sem ocupação....
Você quer acelerar e passar por cima, e voltar rapidinho para o seu prédio com porteiro e cerca elétrica, onde as únicas dores que entram são aquelas cuidadosamente dosadas pela programação da tv. Feita para eternecer e entorpecer.
Eu não me sinto mais tão sozinha.
Tantas coisas me fizeram sair do meu mundo cor de rosa de classe média branca católica hétero, e nada me faz desejar voltar para minha bolha.
Não.
Minto.
As vezes desejo sim, voltar para uma bolha onde esteja cega ás injustiças que acontecem do meu lado.
Somente pensar nas criancinhas na África, ou nas mortes no Oriente Médio, e planejar a próxima viagem, e saber das novas tendências de moda e cabelo e maquiagem...
Mas não sou um zumbi.
E ninguém precisa ser.
ser agredido por pegar na mao de quem se ama. hehehe esse eh o mundo que a gente vive :)
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