quinta-feira, 22 de julho de 2010

A Quinta Emenda...e a 64ª Emenda...

Nós já estamos em qual emenda mesmo? Na nossa colchinha de retalhos esfarrapados que é a Constituição Cidadã?

E, lendo os comentários de um portal da internet, sobre o caso Eliza (me recuso a chamar de "caso Bruno"), me abismei com os comentários deixados pelos internautas.
O portal permite postagens anônimas, então, existem nomes que aparentam ser verdadeiros, e outros obviamente inventados, criados apenas para combinar com a frase postada no comentário.

Além do óbvio sexismo, racismo, homofobia e outros preconceitos e intolerâncias, os usuários tem:

1 - Saudade da ditadura;
2 - Querem que a polícia "vingue" a vítima (ou acham que a vítima está viva);
3 - Dizem que é tudo culpa do PT.

Entre outras pérolas. As vezes, o mesmo comentário é um jorro nauseante de preceitos desrespeitosos, somente amparados pelo manto do anonimato.

Não vou tecer considerações sobre o aspecto de violência de gênero que é patente no crime e no tratamento midiático, por agora.




Estava começando uma resposta a um comentário, quando a conexão caiu, e perdi tudo (porcaria de velox... Oi é dureza...). Aí resolvi não comentar lá, mas compartilhar aqui!

O comentarista afirmava, com convicção, que nos Estados Unidos é crime o investigado mentir nos interrogatórios.
E eu fiquei pensando: e a Quinta Emenda?

(um aparte: recentemente, houve um certo clamor nos meios juridicos norte-americanos, quando foi alterado o entendimento sobre o "Miranda Warning", e o investigado, acusado de um crime, deve, ao ser cientificado de seus direitos, dizer explicitamente que entendeu e não quer falar - se ele só permanecer em silêncio, a polícia e os promotores podem continuar a interrogá-lo, e o que ele disser, será admissível. Me fascina, a nuance tênue, quase imperceptível... para nossos pequenos nazis... e os que querem copiar os americanos só querem o que os interessa, os ônus decorrentes do devido processo legal, não. Contraditório, mas, como disse o comentarista americano, faz sentido, perfeitamente, aqui em Marte... )




Várias pessoas concordaram, dizendo que "só no Brasil mesmo", "esses petistas"... e blábláblá.
Pessoas, se querem comentar, pelo menos tenham um prévio conhecimento, nem que seja para blefar!

Em nenhuma democracia ocidental, o réu é obrigado a se auto-incriminar.
As gradações desse direito à não-autoincriminação é que são variáveis, nunca o direito em si.
A testemunha pode invocar o direito à não-autoincriminação, e calar-se sobre fato que possa vir a ser usado contra ela.



Gostariamos que todos fossem honestos, e bons, e confessassem seus crimes e expiassem seus pecados? "A verdade vos libertará"?!

Sim. Claro. Mas não é assim que funciona. E seu eu quero os direitos para mim e para os meus, tenho que admitir que eles se apliquem aos outros (a "eles e aos deles"? Quem seriam esses eles? Ora, obviamente, aos bandidos! Eu sou cidadão honesto! Direitos humanos para o cidadão honesto, cadeia, tortura e morte para o resto! - ironic mode on, ironic mode on!) .


Um comentário:

  1. O que Nelson Rodrigues chamava de "complexo do vira-lata". Essa retórica do "nos EUA é assim" é típica do pensamento colonizado. Como se o que vale por lá automaticamente valesse pra cá.
    Parabéns pelo blog e espírito crítico.
    Inté!

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