domingo, 4 de setembro de 2011

Nono livro: O mais triste que já li

Já escrevi aqui sobre Vidas Secas ser o primeiro livro que me fez chorar, com a cena da cachorra Baleia.
Hoje, no meme dos 30 livros (em mais de um mês, pq a pessoa é procrastinadora crônica e aí já viram...) tenho que pensar no livro mais triste que já li.


E acho que é Cidade de Deus, do Paulo Lins. (disponível aqui, em pdf)



Adorei a narrativa. Acho que Paulo Lins, em Cidade de Deus, equivale a Guimarães Rosa. A linguagem do morro tem uma gramática própria, e é parte importante da narrativa.

É um livro excelente, já considero um clássico, e é uma obra muito triste.
Não é um romance sobre pessoas, é sobre a cidade. 
É sobre o Rio de Janeiro, mas poderia ser sobre qualquer cidade.
É sobre esse sistema feladaputa no qual estamos inseridos, esse modo de produção fudido, que incentiva o individualismo e a ascensão social a qualquer custo. Capitalismo, esse monstro.


Cidade de Deus é um murro. 
Uma sucessão de murros, pontapés, facadas, tiros.
Na boca do estômago, na cara, na alma.



A linguagem crua, a descrição detalhada de cenas de violência, que não banalizam nada, mas pelo contrário, tornam cada página um martírio.
E a gente lê, sabendo que não vai melhorar.

Foi o livro mais triste que li.
De uma tristeza diferente da tristeza de Vidas Secas, mas ao mesmo tempo, com semelhanças.
A desesperança, que é diferente do desespero, dá o tom do romance.

Não há objetivos.
O sonho de ser dono de Cidade de Deus nada mais é que o sonho do Eike Batista ou qualquer outro empresário ou financista de ser dono do mundo. Só mudam as dimensões.
Nem mesmo a forma de conseguir obter o que se quer difere: Zé Pequeno estupra, tortura, mata, rouba.
Empresários e financistas, também.

Não idolatro Zé Pequeno.
O odiei no filme. No livro, consegui estabelecer certa empatia por ele, mas ainda o odeio.
O fato dele ser feio, pobre, favelado, fodido, não lhe dá o direito de ser mau. 
E ele não é mau só com os playboys e patricinhas, é mau com seus "iguais". 
Ele não tem (e nem quer) redenção.
Não falo de perdão. Quem pode perdoá-lo, senão ele mesmo?
Falo de aspirar algo diferente.

Ah, sim, ele aspira algo, que não sabe bem o que é.
Nesse ponto, me identifico com ele.

O livro todo é incrível. Tão bom quanto o filme, ou melhor.
Recomendo, mesmo, a leitura. 


E foi o livro mais triste que já li.
Baseado em fatos reais, escrito com o coração, Paulo Lins foi magistral.
E poderia ser relançado, hoje, com as datas alteradas, e nada, absolutamente nada, mudou.

Não sei se é porque trabalho no sistema de justiça criminal, mas o mais assustador e o mais triste livros que já li tem em comum o tema da violência, da criminalidade, da pobreza, da corrupção, da miséria humana no Brasil.

Deve ser. 
Significa.

Também estão participando a Luciana, a Niara, a Marília, a Claudinha, a Mayara, a Grazi e a Tina Lopes, que foi quem começou primeiro o desafio, e nos inspirou a todas.


* Se você quiser comprar, no Submarino está à venda a edição de bolso, que foi a que eu li.
O Paulo Lins revisou o livro, e fez alterações substanciais, diminuindo o número de páginas e renomeando personagens. Quero ver se encontro a edição original para comparar.

** Dia 7/9, dia da Independência (??) ocorrerá mais uma edição do Grito dos Excluídos.
Eu vou. Mas, como disse o Lucas, do Diário da Liberdade:


"Lutar contra a corrupção é lutar contra o capitalismo. Tenha isso em mente antes de emitir um grito no dia 7 de setembro."

Um comentário:

  1. Poxa, não li e fiquei curiosa. Pq né, com raríssimas exceções o filme nunca é tão bom quanto livro. Esse meme aumentou demais a lista dos livros a ler... Não darei conta nem até 2014.

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