sábado, 3 de setembro de 2011

O livro mais assutador, a realidade ainda mais aterrorizante

Quando tinha dez anos, li um livro de terror, tipo Stephen King, que era do meu pai.
Foi aterrorizante. Era a história de uma mãe que se separa, após perder a filha, e vai morar em uma casa assombrada. E a gente não sabe se é assombrada mesmo, ou se é a mulher que é assombrada por fantasmas do passado. No meio do livro, descobrimos que a filha  morreu após engasgar, e a mãe tentou fazer uma traqueostomia de emergência, mas acabou cortando a garganta da menina... E o fantasma da menina aparece, e ainda tem uma menina psicopata que mora na vizinhança... Muito terror mesmo. Lembro de uma cena na qual a menina, loirinha, mais ou menos dez anos, coloca um passarinho entre as hastes de uma roda de bicicleta, e pedala, despedaçando o passarinho. Horrível.

Durante muito tempo, foi o livro mais assustador que já li. Mesmo Carrie e Christine, o carro assassino, ambos do King, não me aterrorizaram tanto. Crianças diabólicas e crueldade contra animais, no mesmo livro, foi demais.

Até que, há pouco mais de um ano, comprei, na esteira de Elite da Tropa, o livro, e Tropa de Elite, o filme, um livro que se chama Sangue Azul: Morte e corrupção na PM do Rio.

E fiquei simplesmente paralisada de terror.
Eu sou policial. Não sou, nem posso ser, ingênua. Sei que coisas horríveis acontecem. Nunca vi, mas sei. Todos sabemos.
Execuções.
Corrupção.
Extermínio.
Tráfico de drogas, prostituição, tráfico de armas.
Extorsão.
Assassinatos.
Estupros.
Tudo isso, feito por quem deveria servir e proteger.

O livro conta a história, supostamente e provavelmente verídica, de um pm do RJ, que adotou o pseudônimo "Rubens".

É um livro horrível.
Conta, em detalhes, como um jovem entra para a polícia com as melhores intenções, e é engolfado pela onda de crimes e violência, não que deve combater, mas à qual deve aderir, para sobreviver.
Não há glória.
Não há redenção.
Não é como Elite da Tropa, quando mesmo com as denúncias de mazelas infinitas, ainda há vislumbres de que algo pode mudar, para melhor.


Em Sangue Azul, nada melhora.
O livro logo no começo descreve uma cena de estupro, de um grupo de policiais contra duas meninas da favela, ao lado do corpo sem rosto do traficante executado.
E só piora. Piora, piora, piora.


Pior que falecerf fisicamente, é o que eu sinto por dentro. Melhor, o que eu não sinto. Além do medo, não sinto mais nada. E quanto o medo acabar, só me restará a morte.

Não é um livro bem escrito.
Mas é assustador.
Me faz pensar que a realidade é ainda mais aterrorizante que qualquer livro.

Um comentário:

  1. Senti isso quando li PIXOTE - INFANCIA DOS MORTOS, muito antes dos tempos do Tropa de Elite.

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