segunda-feira, 12 de julho de 2010

Delegadas na novela, delegadas na vida real...


Há umas duas semanas comecei a escrever este post, mas como o Curso de Promotor de Polícia Comunitária começou, não tive tempo de terminar, e só agora estou encerrando a edição.

A idéia surgiu de uma conversa com outras três delegadas da PCMG, Dras. Carolina Bechelany, Daniela Aguiar e Juliana Hissanaga, e comentando sobre algumas situações cotidianas (e outras nem tanto...) falamos sobre a imagem dos delegados e delegadas na ficção televisiva brasileira.

E uma delas, não lembro qual (rs) falou que assistiu o primeiro episódio, e que a delegada federal interpretada pela Luana Piovanni comparece a um local de homicídio, e é a bambambam do pedaço, enquanto o delegado da civil (não sei se do Rio ou de SP) é um corrupto, mal ajambrado... estereotipado da pior forma (pesquisando imagens para ilustrar, descobri que o Maurício Mattar é quem faz o delegado).

E as mulheres?
Talvez porque as mulheres são mais novas nas Polícias, não temos muito aquela imagem estereotipada dos homens policiais civis. As vezes ainda escutamos, em tom de surpresa: "nossa, mas você é tão feminina, não parece policia" ( e olha, nem sei se sou tão delicada assim, tenho "cara fechada", não sou miudinha, pelo contrário, rs) , ou seja, a expectativa é que sejamos versões masculinas do Capitão Nascimento, sei lá...

Temos tido sorte (pelo menos em termo de aparência)... vejam as últimas delegadas da ficção:

Luana Piovani - Delegada Gabriela - Na forma da lei

Raquel Nunes - Márcia - Bela, a Feia

Só que não consigo ver esse festival de beleza simplesmente como algo bom, sabe.
Não deixa de ser um outro estereotipo que se cria, com o tipo: "ah, me prende, me algema!"
É uma especie de fetiche, sei lá.

Ser delegada, além de todos os desafios relativos ao crime, à desigualdade social, à violência, dos quais já falei um pouco aqui no blog, tem esse outro lado: ter que chefiar um grupo formado majoritariamente por homens, a maioria deles (por enquanto) mais velhos do que eu, mais antigos na profissão, e com seus preconceitos, seus hábitos, sua própria cultura.

Rita Guedes, em Caminho das Indias

Cris Viana, a delegada Tita, de Tempos Modernos, novela da Globo

Francisca Queiroz, A lei e o crime

Costumo comentar que em uma ocasião, após lidar com uma situação complexa, um policial antigo se aproximou e me falou: "Poxa, Doutora, com todo respeito, a senhora tem corpo de mulher, mas tem cabeça de homem (pensa como homem, algo assim)."
E eu não me ofendi, porque imediatamente entendi que ele estava querendo me elogiar.
Claro que eu gostaria que ele pensasse em uma forma diferente, mas, puxa, como eu vou conseguir mudar a forma de pensar de um homem que entrou na Polícia quando eu estava nas fraldas (exagero... ), e convive há todo esse tempo com "the crap" que em quatro anos está me estressando?

Zilka Sallaberry - Delegada Donana Medrado, O bem-amado

Eu tento mudar a cabeça deles, sim e muitos percebem. Mas eu não sou operacional (não saio muito para a rua, fico mais no gabinete, até pelas especificidades da minha área de atuação - Crimes de trânsito, e só recentemente, furtos e roubos de veículos), e sei que muitos acham que sou menos policia que eles, mas pelo menos também sei que não pensam assim só porque sou mulher e sou ativista de Direitos Humanos. Pensam assim de qualquer delegado que não sai pra rua.

Se eu quero ir para rua, armada e de colete? Sei lá. As vezes quero, as vezes acho que cumpro bem meu papel mais estratégico, não precisaria ir nos locais, mas tudo pode mudar.

Só para encerrar este lance:
A Dra. Juliana Hissanaga, de BH, titular da Delegacia de Polícia ali da Av. Pedro II, contou de um episódio em que saiu correndo, de saia lápis, meia fina e salto agulha, com a pistola .40 em punho, atrás de um assaltante, dando apoio para o Agente que presenciou o assalto.
Imaginem a cena: uma mulher jovem, bonita, bem arrumada, nissei, de um metro e meio de altura (desculpa, Ju!), correndo descalça atrás de um cara de 1,90 de altura! Descalça, porque como ela mesma disse: "quando comecei a correr pela rua, e vi que não dava com aquele salto, chutei o scarpin e corri descalça mesmo! No dia seguinte, todo mundo das lojas próximas perguntava para os Agentes quem era a "japonesa correndo descalça com a arma na mão?".

E pegaram um dos assaltantes, que foi autuado em flagrante.

Parece ficção? Pois é, vida real...

(não tem foto da Ju, mas a primeira, lá no alto, sou eu, com a .40...)

Outra hora quero falar sobre as diferenças entre Polícia Civil e Polícia Militar, mas deixa pra depois...

3 comentários:

  1. Renata,

    Hoje visitei o blog e fiquei emocionado com a espontaneidade de tudo. Você é dez! E este 'post' sobre as delegadas da TV, em especial, está uma delícia. Eu, velho dinossauro (como disse para a Sílvia Ramos), adorei especialmente a referência à Zilka Sallaberry, na inesquecível novela "O Bem Amado". Também fiquei rindo muito (em que pese reconhecer que a coisa é séria) do episódio com a nossa colega Drª. Juliana, a quem só conheço desses encontros oficiais. Vocês, mulheres, são parte fundamental na mudança da Polícia Civil e eu quero continuar ajudando e batendo palmas. Um abraço do seu amigo, Jésus

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  2. Doutora Renata:

    Cheguei ao seu post realizando uma busca no google sobre quando seria o proximo concurso de delegado civil ( bati na trave em 2011)
    Sou advogada, apaixonada pela PC, apesar de ter sobrepeso, sedentaria e fumante nao vou desistir!
    É um incentivo ler seus textos!

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