segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sobre livros e animais - ou Eu sou o Gato

Gatos combinam com livros.
Isso quando não ficam se enfiando entre nossos olhos e as páginas, indagando o que pode ser tão interessante que tira nossa atenção de suas belas presenças.
Cachorros combinam com livros.
Isso quando não decidem, literalmente, devorá-los.
Pagu, a mais calma e dengosa. Adora um colo.
 Pagu e Lili, as gatinhas, adoram se enfiar entre meus olhos e as páginas que acompanho.

Lili, a arisca. Curte ficar no alto da escada, olhando a todos de cima...

Mafalda, a viralatas monstra, já devorou "Persuasão", de Jane Austen, edição bilíngue, que estava sobre a mesa de centro. Imagino que tenho uma cadela bem culta. Ela também já comeu o sofá, e a beirada de um livro de receitas da culinária bahiana. Posso dizer que ela tem um paladar bem... eclético.
Quem vê assim, calminha, não conhece o furacão! Amo minha monstrinha!
 Toddy, o labrador chocolate, depois de pular e brincar, quando se acalma, se deita aos meus pés e me deixa ler, sossegada.

Coisa mais linda da minha vida! Amo demais esse grandão! Toddy, meu lindo.
 Já tive inúmeros animais de estimação. Minha avó gostava de bichos, e me deixava acolher os gatos abandonados pela rua. Mas eles viviam soltos, e a maioria morria (sumia) muito rápido. 

Chico foi o que ficou mais tempo conosco. Era um gato, que achamos que era gata, e chamamos de Chica. Depois de anos, sem crias, descobrimos que era um garoto. Virou Chico.
Creio que foi o animal ao qual minha avó Maria mais se apegou. Ele viveu cerca de oito anos, e conquistava até quem não gostava de gatos. Era tranquilo.
Tinha mania de dormir sobre a barriga da gente. Mais de uma vez acordei sufocada com seu peso. Era quentinho, manhoso, calmo.
Depois que minha avó morreu, ele ficou tão triste. Não comia, não sossegava, miava pela casa, procurando vovó. Sumiu cerca de duas semanas depois. Nunca mais voltou.
Ele também gostava de se enfiar entre minha cara e o livro, especialmente quando lia deitada. Afinal, eu era a almofada dele, oras! 

Hoje o desafio é falar sobre "my favorite animal book".

Um livro com animais? Um livro sobre animais? 

Bem, poderia falar sobre Flush, da Virgínia Woolf. Amei demais.
Ou sobre algum livro da infância, com seus animais pensantes e falantes.

Ou sobre Marley e Eu, que ganhei de presente, e confesso que até chorei.
Sobre Dewey, a história de um gato de biblioteca, que viveu vinte anos em uma biblioteca de uma pequena cidade dos Estados Unidos.

Ou sobre Moby Dick, que para mim, é sobre a baleia e não sobre o capitão Ahab. 

Isso diz muito sobre mim: eu sempre torço para o animal, e não para o homem.
Torço para o touro acertar o toureiro, torço para o leão devorar o caçador.

Entre os bichos, torço para que o gato vença do rato, naqueles desenhos animados estúpidos do Disney e de Hanna Barbera. 

Gosto de passarinhos soltos, e não de psicopatas emplumados como o Piu-piu. Sempre quis que o Frajola finalmente conseguisse comer aquele chato.

Então... taí. Sempre assim, eu começo a escrever e a coisa flui, e acabo descobrindo sobre o livro que cabe aqui: meu favorito é "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: uma história de amor".
Sim, é um livro infantil. E sim, é do Jorge Amado. 
E é lindo.
A história de um gato malvado, que se apaixona por uma andorinha boazinha.
E eles desafiam as fofocas e a própria natureza...
Na verdade, a narrativa, de infantil, não tem nada.
O mundo só vai prestar
Para nele se viver
No dia em que a gente ver
Um gato Maltês casar
Com uma alegre andorinha
Saindo os dois a voar
O noivo e sua noivinha
Dom Gato e dona Andorinha.
(AMADO, 1979, p. 07).

O gato era malvado, feio, rabugento.
Um canalha.
Puxa, Jorge o descreve assim: 
[...] o Gato Malhado estirou os braços e abriu os olhos pardos, olhos feios e maus.
Feios e maus na opinião geral. [...] Naquelas redondezas não existia criatura mais
egoísta e solitária. Não mantinha relações de amizade com os vizinhos e quase
nunca respondia aos raros comprimentos que, por medo e não por gentileza, alguns passantes lhe dirigiam. [...] Devo dizer, para ser exato, que o Gato Malhado não tomava conhecimento do mal que falavam dele. Se o sabia não se importava, mas é possível que nem soubesse que era tão mal visto, pois quase não conversava com ninguém, a não ser, em certas ocasiões, com a Velha Coruja. (AMADO, 1979, p. 18)
O gato se apaixona pela andorinha. 
E eles vivem uma estação de amor.
Mas é uma história que estava destinada ao fracasso.



Diziam da maldade do Gato mas diziam também de sua solidão. Jamais o Gato
Malhado voltara a dirigir a palavra a quem quer que fosse. Tão grande solidão
chegou a comover a Rosa-Chá que confidenciou ao Jasmineiro, seu recente amante:
- Coitado! Vive tão sozinho, não tem nada no mundo...
Enganava-se a Rosa-Chá quando pensava que o Gato Malhado vivia solitário e não tinha nada no mundo. Bem ao contrário, ele tinha um mundo de recordações, de doces momentos vividos, de lembranças alegres. Não vou dizer que fosse feliz e não sofresse. Sofria, mas ainda não estava desesperado, ainda se alimentava do que ela lhe havia dado antes. Triste no entanto, porque a felicidade não pode se alimentar apenas de recordações do passado, necessita também dos sonhos do futuro. (AMADO, 1979. p. 48)
Se eu antes me identificava com o gato, hoje, mais ainda. 
E olhem, eu não lembrava especificamente deste trecho, não estou com o livro aqui, e não achei para baixar na net... 

Pois é.
Eu sou o gato Malhado.

* aqui tem um estudo sobre a obra. Muito bacana (mesmo eu não tendo entendido patavinas do lance da narrativa e tal, pelo menos consegui alguns trechos, já que acho que dei meu livro para uma sobrinha) 



Também estão participando a Lu, a Niara, a Marília, a Tina Lopes (quem começou com esse meme, que acaba atraindo mais e mais gente a cada dia!), a Rita, a Cláudia, a Grazy e a Mayara!


Ah, e o Pádua Fernandes, do Palco e o Mundo, e agora, a Renata Lins, do Chopinho Feminino.

5 comentários:

  1. Sabe quando a gente gosta tanto de um post que fica relendo inteiro e em partes, tentando entender tudinho, tentando ficar mais perto de quem escreveu, querendo ter escrito alguma parte? Pois é. E olha que eu nunca, jamais, em tempo algum tive bichos a não ser ogato de alice que mora em baixo da minha cama e a galinha da clarice que bica meu juízo e, claro, o flush que mordisca todos os meus sapatinhos vermelhos. Amei sua escolha. Bjs.

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  2. Ah, Borboleta,
    suas visitas me enchem de alegria.
    Leia este, sim. Vc vai amar. Se bem que você é a andorinha Sinhá.
    Aquela que voa e com todos se dá. Não há andorinha mais querida no parque!
    bjs!

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  3. Ih, que legal... já fiquei pensando qual seria meu animal book.... e ainda não tô nem perto.... =)

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  4. Já ouvi falar desse livro, a Renata me contou a história dele ontem à noite, mas não o li. E nunca senti tanta vontade de ler um Jorge Amado na vida.
    Muito bom. Viajei... :)

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  5. Nossa, quanto animal book que eu nem conhecia! Lindo seu post, adorei, Renata. Vou comprar esse livro pra minha Nina.

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